Opinião: A mediocridade de Arteta

A última segunda-feira trouxe mais uma noite terrível para o Arsenal de Mikel Arteta, depois de somarem mais uma derrota, desta vez no terreno do Everton por 2-1. Foi mais uma derrota com o carimbo da má imagem que Arteta está a deixar. Será que começa a chegar ao fim o seu reinado e é hora de começar a procurar um sucessor?

Existe um senso comum entre os adeptos do chamado Big-6 na Premier League, que acreditam que Arsenal deixou de se comportar como um clube grande e assemelha-se cada vez mais a um clube de meio da tabela. Muito se fala da aceitação da mediocridade entre os adeptos, mas será isso verdade? Bem, quando se olha para a forma como o clube está a ser gerido entre os tais rivais do Big-6, existe um padrão.

O Chelsea despediu Frank Lampard por causa dos resultados medíocres e abriu os cordões à bola para ir buscar um treinador de topo como é Thomas Tuchel. O efeito foi quase imediato, tornando os Blues campeões europeus em menos de 6 meses de trabalho. O Tottenham despediu um treinador fraco como é Nuno Espírito Santo para ir buscar um dos mais requisitados do futebol actual: Antonio Conte. O Manchester City tem Pep Guardiola depois de bons trabalhos em Barcelona e Munique e tem sido um dos maiores dominadores da liga, enquanto o Manchester United passou por um período conturbado nos últimos tempos mas contratou agora Ralf Rangnick, que é considerado por muitos a melhor escolha desde que Alex Ferguson saiu do clube. Finalmente, o Liverpool deu as chaves de casa ao super-experiente Jurgen Klopp, que trouxe de volta a Anfield os troféus da Premier League e da Liga dos Campeões.

Os clubes grandes têm grandes expectativas nos seus treinadores. Tal como contratar jogadores de classe mundial faz os adeptos esperarem que esses jogadores entreguem mais dentro de campo do que os restantes, de forma a levarem a equipa a um nível acima. O problema é que nós não contratámos um treinador de classe mundial. Fomos buscar um treinador medíocre, que vem para o Arsenal ter a sua primeira experiencia no trabalho. Um estagiário como definimos já em vários podcasts. E o resultado está à vista: mediocridade.

No verão de 2019, Arsenal e Chelsea encontraram-se na final da Liga Europa em Baku. Menos de 6 meses depois ambos os clubes contrataram antigos jogadores, com pouca ou nenhuma experiência de treino, como novos treinadores. No Natal seguinte, depois de resultados considerados fracos, os responsáveis do Chelsea perceberam que esse não era o caminho certo para o clube. Eles, como clube do chamado Big-6, tinham grandes exigências para o seu treinador. As esperanças que Frank Lampard os levasse ao topo iam caindo por terra. O problema no Arsenal é que não existe esse tipo de exigência. Ninguém exige nada. Em vez disso, vivemos na constante esperança que o sucesso surgirá em alguma altura.

Desde que Arteta foi contratado, tem tido um constante apoio dos responsáveis do clube e de uma grande franja de adeptos, que são cada vez menos. A razão para esse apoio foi uma suposta melhoria que a equipa ia tendo. E um punhado de promessas. O problema das promessas é que elas começam a tardar em ser cumpridas. Arteta está no cargo há dois anos e continuamos a ser derrotados na casa do pior Everton dos últimos anos e que nos últimos 8 jogos não sabia o que era uma vitória. Os adeptos começam a ter que celebrar vitórias contra Burnley ou Norwich, começando a baixar o nível de exigência. A aceitar a mediocridade. Os responsáveis deste clube simplesmente não exigem nada de Arteta. O espanhol tem um bom plantel – não de topo – mas continua a não saber explorar ao máximo o seu valor. Todas as desculpas começam a não fazer sentido. O Arteta não ter “o seu” plantel, ou não ter o apoio dos jogadores mais experientes que se chegam à frente por ele… Começa a não colar. As táticas de Arteta são simplesmente frustrantes e a equipa não melhora em nada. A forma como mexe na equipa continua a ser muito confusa e as suas escolhas são no mínimo questionáveis. Podem exisitir algumas qualidades na sua gestão? Talvez, mas devemos exigir bem mais do que aquilo que tem sido apresentado.

Como clube grande, precisamos de um treinador que não substitua Gabriel Martinelli por um jovem avançado com apenas mais 6 meses de contrato e que já disse que ia embora, quando tem Nicolas Pépé sentado no banco. É algo que simplesmente não faz sentido. Um treinador de classe mundial melhora os seus jogadores, não os deixa esquecidos no banco. Basta ver o que Thomas Tuchel fez com Christensen e Rudiger. Ambos melhoraram em muito tendo em conta aquilo que apresentavam no passado. Não há cá desculpas de adaptação dos jogadores. O plantel que Mikel Arteta tem à sua disposição é bom. A qualidade dos seus jogadores é que expõem as suas fraquezas enquanto treinador. Dois jogos seguidos em que ficamos em vantagem no jogo e depois a equipa recua à espera que o jogo termine. É algo que não faz qualquer sentido. A intensidade dentro de campo desaparece e fazemos tudo menos jogar futebol. E isso não acontece porque está lá o Kolasinac, o Elneny ou o Nketiah. Acontece porque simplesmente o treinador não sabe mais e nada lhe é exigido.

A comparação entre “processos” que normalmente acontece é entre o Arsenal de Arteta e o Liverpool de Klopp. A diferença entre os dois “Trust the Process” é que o Liverpool foi buscar um treinador experiente, vencedor, com capacidade de colocar a equipa a jogar um futebol atacante e que voltou a colocar os Reds na rota dos títulos. Mikel Arteta simplesmente não consegue fazer isso. Porquê? Talvez pela sua falta de experiência e pela sua pouca capacidade de gestão do plantel. Arteta talvez venha a ser um bom treinador no futuro, mas não serve atualmente para o Arsenal e a sua contratação foi um erro crasso.

Todos nós os adeptos estamos cansados atualmente. É frustrante ver a equipa a jogar sempre da mesma forma e sem resultados à vista, com substituições questionáveis e com constantes desculpas. Para além disso, olhamos para a gestão do plantel e vemos jogadores de qualidade duvidosa a terem as suas oportunidades enquanto outros valores vão saindo ou não tendo tempo de jogo.

Este é o grande problema quando um clube, principalmente um clube grande, vai buscar um antigo jogador para treinador. Têm demasiadas oportunidades e podem falhar demasiadas vezes. Mikel até pode ser um tipo “cinco estrelas” mas se fosse um tipo qualquer, de um país qualquer, que tivesse apenas trabalhado sob a orientação técnica de Pep Guardiola, já teria sido despedido. Mas a ligação de Arteta ao clube permite isto, algo que não deveria acontecer. Ainda vai sendo defendido porque é Arteta, um ex-jogador do clube. E isso é mau. O nosso nível de exigência acaba por ser menor porque queremos que Arteta tenha sucesso e enquanto isso, o clube é que vai sofrendo. É hora de deixar os sentimentalismos de lado e olhar de frente para toda esta situação. Arteta é medíocre e precisamos de mais do que mediocridade. Precisamos de alguém de classe mundial. E é um direto nosso exigir isso.

Ricardo Pires

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