Opinião: O que de bom começa a emergir

Os dois últimos jogos do Arsenal na Premier League foram bastante positivos, não afastando isso Mikel Arteta das críticas que deve ser alvo. As maiores preocupações que haviam (e ainda existem) em torno da equipa do treinador espanhol era a falta de energia e a previsibilidade que apresentavam em campo. Mas crédito para o treinador por de alguma forma ter conseguido dar a volta à situação. Não me interessa apenas realçar as coisas más. As boas também devem ser faladas e não ignoradas – por isso vamos olhar para elas.

Dois jogos são ainda uma amostra bastante pequena para aquilo que queremos ver, mas estou muito contente por finalmente ver a equipa a pressionar da maneira que o fez. A vitória por 3-1 em casa frente ao Aston Villa apresentou uma das melhores exibições do Arsenal nas últimas temporadas. A equipa apresentou uma grande intensidade e o ambiente no estádio pareceu ser incrível, pelo menos para nós que estávamos de fora. Cada vez que a bola chegava aos pés de um jogador do Aston Villa os nossos jogadores faziam pressão imediata. O trabalho foi tão bem feito que a equipa de Emiliano Martínez não fez um remate à baliza em toda a primeira parte. Jogámos sempre no meio-campo contrário e isso simbolizou tudo o que nós, enquanto adeptos, pretendemos ver o Arsenal a fazer.

Contra o Leicester City entrámos no jogo de forma semelhante, mas depois decidimos defender a vantagem de dois golos no marcador. Era preferível termos tentado matar o jogo de forma definitiva, mas a organização e a resiliência da equipa merecem ser realçados. E o nosso guarda-redes… fantástico! O que me leva para o próximo ponto: as nossas contratações no mercado de verão.

O Arsenal gastou mais de 150 milhões de libras em reforços no início da temporada, contratando Ben White, Martin Odegaard, Aaron Ramsdale, Takehiro Tomiyasu, Albert Sambi Lokonga e Nuno Tavares. Com a excepção de Odegaard, que já tinha passado pelo clube na temporada passada, todos os outros chegaram ao Emirates e adaptaram-se rapidamente. Para além disso, elevaram a qualidade do nosso plantel e do nosso jogo.

Ramsdale tem sido, provavelmente, o guarda redes do ano na Premier League até ao momento. A sua contratação foi criticada, por diversos motivos, pela esmagadora maioria dos adeptos, mas mesmo aqueles que ficaram contentes com a sua chegada não esperavam um impacto tão grande e tão rápido. Basicamente tem tudo – defende bem, excelente com os pés na distribuição de jogo, sabe comandar os colegas nos lances de bola parada e tem uma grande personalidade. Vou arriscar… Este homem habilita-se a ser capitão do Arsenal um dia.

Ben White e Takehiro Tomiyasu melhoraram a nossa linha defensiva para aquilo que era o ano passado e ao mesmo tempo oferecem mais qualidade no processo ofensivo. Já o português Nuno Tavares chegou para ser uma alternativa a Kieran Tierney, mas até ao momento tem respondido bem à ausência do escocês. A sua capacidade física e a qualidade no ataque surpreenderam muita gente. Defensivamente é a sua maior fraqueza.

Sobre Sambi Lokonga já se escreveu aqui. Um jovem belga de 22 anos de enorme qualidade, grande personalidade e que tem todos os atributos para ser um excelente médio no futuro, preferencialmente por nós.

Podíamos estar cépticos sobre alguns jogadores, mas até ao momento têm estado bem. Outro, que apesar de ter chegado na temporada passada, é já um patrão na equipa. Gabriel Magalhães deu um salto enorme de qualidade da temporada passada para a actual. Um jogador que custou cerca de 25 milhões de libras ao Arsenal, vale facilmente actualmente o dobro. Não é por isso de estranhar que a sua subida de forma esteja ligada à subida de forma da equipa e talvez por isso não saiba o que é perder nos seus últimos 14 jogos pelo Arsenal.

A cultura no clube parece estar finalmente a mudar. Embora ainda não haja um plantel com a qualidade individual que pretendemos, a nível colectivo tem demonstrado um grande espírito entre si. Todos parecem estar unidos. O plantel jovem também tem ajudado – em termos de médias de idade, o Arsenal tem um dos planteis mais jovens da Premier League (24,2 anos). Estes são jogadores jovens e talentosos que pretendem crescer e melhorar juntos. Actualmente não parece haver espaço para pré-reformados que olham para o Arsenal como um clube de final de carreira e que colocam o seu interesse individual acima dos interesses da equipa. E isso é positivo. Para além da qualidade individual, a personalidade de cada um parece ter sido considerada no momento da sua contratação – algo que muitas vezes não fizemos.

No futebol o objectivo é vencer. E nos últimos 7 anos conseguimos conquistar 4 taças de Inglaterra. Queremos mais e melhor? Claro! Mas um troféu é um troféu. Jogamos para ganhar e carregar boas memórias para o resto da vida. Este ano parece que poderemos ter uma boa oportunidade na Carabao Cup – troféu que apenas conquistámos por duas ocasiões na nossa história. Não podemos dar já o jogo contra o Sunderland como ganho, mas jogando contra uma equipa de divisão inferior no Emirates, a vitória é obrigatória. Por isso, na Carabao Cup se conseguirmos duas vitórias estaremos na final de Wembley na luta por mais um troféu. Com a falta de futebol europeu e com um calendário mais relaxado, é imperativo tentar vencer as outras competições que restam para lá da Premier League.

Parece que começamos a ter uma ideia daquilo que é o nosso onze titular base actualmente. No sector mais recuado Ramsdale, Tomiyasu, White, Gabriel, Tierney/Tavares são as opções. Partey é o coração do meio-campo. Saka e Emile Smith Rowe são intocáveis nesta equipa e Aubameyang é um homem golo. Existem sempre dúvidas para tirar, como quem deve jogar ao lado de Partey, ou se Lacazette será ou não titular. Mas em termos de estabilidade, o nosso 11 base parece que está encontrado.

Estamos claramente melhores nos lances de bola parada. Nenhuma equipa marcou mais golos assim do que o Arsenal esta temporada na Premier League. Crédito seja dado ao nosso novo treinador de bolas paradas, Nicolas Jover, pelo trabalho que tem feito desde que chegou ao clube. Emile Smith Rowe e Saka têm estado bem melhores, por exemplo, na marcação de pontapés de canto. Lembro-me bem de até a algum tempo a bola mal chegar ao primeiro poste.

Apesar de haver vários motivos para estarmos optimistas, não devemos já embandeirar em arco. A equipa esteve bem quando deu a volta ao mau arranque depois de três derrotas nas primeiras três jornadas. Não perdemos nenhum dos últimos 7 jogos na Premier League, conseguindo 5 vitórias e 2 empates. Se queremos regressar à Liga dos Campeões, este é o caminho a seguir. Mas ainda falta muito caminho a percorrer, e como Arteta disse no final do jogo com o Leicester City: “ainda não conquistámos nada e foram apenas duas vitórias”. Temos de ser humildes e pensar jogo a jogo.

Depois da vitória frente ao Tottenham, os nossos jogos contra Brighton e Crystal Palace foram inaceitáveis. E por isso a equipa esteve bem em baixar a cabeça e trabalhar para regressar aos bons resultados conseguidos depois contra Aston Villa e Leicester City.

Por isso, vamos continuar a trabalhar jogo a jogo e o próximo é o Watford, que sendo mais forte ou mais fraco vale os mesmo 3 pontos, que serão bastante importantes na nossa caminhada até ao topo da classificação.

Up The Arsenal!

Ricardo Pires

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